Ficava nos países o tempo que achava ser o necessário e logo fazia as malas, rumo a outro destino que lhe parecesse mais compensador. E, em todos eles, marcava comigo uma leitura da aura.

Era sempre interessante ver o que cada lugar trazia à sua energia, a forma como ela resolvia os seus conflitos e a coragem com que fechava portas, quando algo não lhe fazia bem.
No entanto, a sua energia também escondia a fragilidade de alguém que não conseguia estabelecer-se. Que fugia da dor, com medo que ela a vencesse. A sua autoestima ia ficando ferida com estas aventuras, para quem está de fora, incríveis, mas do lado de dentro, em luta por uma liberdade que, de facto não sentia. Fomos sempre limando, identificando, clarificando, equilibrando. Sobretudo, focando. Na penúltima vez que falámos , ela sentiu e partilhou comigo: Estava na hora de voltar para casa.
Passaram-se mais dois anos e marcou comigo um nova leitura. Voltara ao Brasil. Tinha reencontrado um namorado dos tempos da adolescência e estava feliz. O mundo preencheu-lhe os espaços que precisava para voltar a si. Afinal a sua casa era o lugar de onde um dia tinha partido. Mas não o seria se lá tivesse ficado.
Com ela aprendi que aquilo que admiramos nos outros, não os torna perfeitos ou ingratos diante do que achamos terem de sobra. Porque os outros não somos nós, nem os nossos desejos neles reflectidos. São pessoas também complexas. A mente sabe disto. O coração, nem sempre. Mas as imagens que se encontram numa leitura da aura, criam este acordo entre ambos. Por isso, evoluímos em segurança. A mesma partilhada por quem lê e por quem é lido, embora recebida em lugares diferentes nos corações. Assim nasce a verdadeira empatia e o respeito pelas lutas de cada um. Ficou uma suave amizade entre nós. Afinal "viajámos" juntas pelo Mundo! Há muito tempo que não sei dela. Mas sinto que está bem, na paz de alguém que se encontrou a si mesma.